Há momentos na vida em que você subitamente se dá conta de que as suas certezas viraram dúvidas, e tudo que era sólido parece poeira ao vento. Então você percebe que não adianta mais lutar, que a luta era uma violência inútil. Melhor render-se ao inevitável, flutuar na correnteza da vida, que todos sabemos para onde vai. Vai-se o anel, para a gaveta ou para o olvido, mas fica a mão inteira, e uma vida que resta.
Hoje foi um destes dias. Sinto-me imensamente triste, mas uma semente de alegria brilha sempre, porque descobrir a verdade, mesmo quando nos fere, é uma libertação. Cá estou nesta casa vazia, com meus raros móveis e meus sonhos — o tudo que me resta. A vida acaba de me roubar um pedaço do passado e um naco de futuro possível, mas não me roubou a esperança, essa coisa que ainda brilha no fundo do baú: pelo menos ainda é cedo.
Entendedores entenderão.