Ando pensando em reavaliar meus conceitos sobre a inteligência humana. Não bastassem as recentes descobertas que evidenciam que a maioria de nossos comportamentos são reações a estímulos determinados e que, conhecendo estes, é possível induzir àqueles, não cessam de surgir evidências, também, de que os bichos podem apresentar comportamentos muito mais racionais do que o de certos “senhores da natureza”.
Eu tinha ido fazer compras enquanto minha mulher arrumava o cabelo em um salão de beleza. Enquanto procurava uma vaga para estacionar, parei diante de uma passagem de pedestres, destas elevadas e pintada de vermelho. Isso nem seria motivo para escrever, porque todo motorista deveria parar para pedestres. Só que o pedestre para quem eu parei foi um cachorro.
Tive de parar porque não é todo dia que um vira-latas de rua age daquela maneira. Primeiro ele botou a patinha na passagem de pedestres, depois olhou para um lado e para o outro e, vendo que meu carro ainda estava relativamente longe, atravessou a rua, novamente olhando para os dois lados.
Enquanto aquele cachorro aprendera por onde atravessar, alguns metros adiante, em um cruzamento perigoso, alguns bípedes implumes arriscavam a vida atravessando em diagonal através do cruzamento, tendo de enfrentar carros vindos de quatro lados ao mesmo tempo.
Certamente aquelas pessoas ficariam ofendidas se eu lhes dissesse que o vira-latas exibia mais inteligência do que elas, e isso sem sequer ter um polegar opositor ou um telencéfalo altamente desenvolvido. Mas cada dia creio mais que certos bichos são mais inteligentes do que certos humanos, o que dá um novo sentido à frase “quanto mais conheço o ser humano, mais eu gosto do meu cão”.
O detalhe é que eu nem gosto de cachorro. Bicho fedido e baboso.