Esta postagem é uma obra de não-ficção, que cita e parodia livremente um texto compartilhado na internet, com finalidade satírica e sem fins lucrativos, ancorada na liberdade de expressão e no conceito do fair use (embora este ainda não seja consagrado em nossa legislação, já é no bom senso).
Vem aí o mais imperdível evento literário de 2014. Não, não estou falando de Bienal ou Feira do Livro, estou falando de uma novidade: um reality-show de escritores, sem a parte do show, e com um recurso limitado de reality. Com vocês, a “Casa do Escritor”.
A Casa dos Escritores é um projeto fruto da necessidade da formação de escritores e leitores críticos e da integração entre os mesmos. Para isso, uma certa editora (cujo nome não vou dizer, mas os curiosos acharão no Oráculo), que se credencia como “organizadora de parte da Caravana Literária”, apresenta um projeto “totalmente inovador”.
A fim de “proporcionar um intercâmbio entre diferentes agentes culturais no Brasil”, a ideia é reunir um grupo de dez escritores amadores e dois ou três profissionais em uma casa localizada em localidade isolada do interior de Minas Gerais. O isolamento garantirá, suponho, uma melhor captação das energias cósmicas e das inspirações sobrenaturais dos autores, ao mesmo tempo em que a localização central da cidade de Paracatu permitirá uma melhor “irradiação” do encontro para o resto do Brasil.
A cidade escolhida foi Paracatu, Minas Gerais, Patrimônio Cultural Brasileiro. Para a cidade o evento será ótimo: vai ocupar, fora de temporada, uma pousada inteira e ainda vai tornar a cidade falada em todo o país. Você mesmo que me lê talvez nunca tivesse ouvido falar de Paracatu. Que fique bem claro que a cidade é uma gracinha de lugar, que merece visita.
Logo, além de “treinamento” (sic), palestras e dinâmicas, a programação contará ainda com passeios turísticos regulares pelo Centro Histórico e diversas cachoeiras. Afinal, a literatura em si não é atração suficiente para os eleitos: tem que ter um passeiozinho que valha a pena, que ninguém é de ferro, ou melhor, de papel.
A programação final será divulgada em breve, bem como os nomes dos escritores que serão os instrutores da primeira temporada. Não se preocupe em pagar antes: seja quem for que eles escolham para te ensinar, será alguém relevante e vai valer a pena.
Durante as duas semanas, os participantes terão “momentos para escrita” (talvez vinte minutos por dia sejam suficientes, se não estiverem muito cansados dos passeios pelas cachoeiras e dos churrascos vespertinos). Ao final do período, terão mais seis meses para finalizar um livro, que terá contrato de publicação a Buriti “ou editora parceira” (vai que o ganhador é tão ruim que a editora não queira queimar demais seu filme!).
As inscrições poderão ser feitas até 18/5 (amanhã). O evento ocorrerá entre 18 de junho e 2 de julho, totalizando aproximados 15 dias. Ao contrário do projeto inicial, que seria bem maior, “optamos por essa quantidade de dias por acreditar que assim teríamos bem mais flexibilidade e possibilidade de ter um projeto com grande êxito.” De forma nenhuma a redução de escala foi motivada pelo fator custo, que dificultava encontrar quem tivesse condições de pagar pelo evento.
Inicialmente, serão 10 os selecionados. Logo, os interessados deverão inscrever-se tão rápido quanto possível, pois o número de vagas é limitadíssimo. O transporte até Hogwarts, digo, Paracatu – MG é por conta do participante. A sugestão é que sigam por via aérea ou rodoviária até Brasília, e a partir de lá locaremos um van, saindo da plataforma 9 3/4 da rodoviária, com todos os participantes até a cidade – a distância é pouco maior que 200 km. São só 200 km em uma van, pessoal. Coisa de duas horas e meia apenas. Espero que gostem muito de Paracatu.
Foi escolhida, para a realização do projeto, uma casa que é um verdadeiro sonho. O imóvel é plano (possivelmente os demais imóveis de Paracatu são curvos ou inclinados, então é importante frisar que este, em especial, é plano), localizado no Centro Histórico, possui cinco quartos suíte (o que quer dizer que você, se vai sozinho, terá de dividir um quarto com um/a estranho/a), sala de visitas, sala de TV, sala de jantar, cozinha, 3 banheiros sociais, 2 despensas, garagem para vários veículos, churrasqueira com 2 banheiros (a grande atração é a quantidade de banheiros, além de um em cada quarto, temos mais 3 “sociais” e 2 na churrasqueira, totalizando 10) e área coberta, piscina com cascata, jardim gramado e diversas plantas (coisa mais rara um jardim com grama “e plantas”), portão eletrônico, cerca elétrica com alarme (a menos que o objetivo seja impedir os escritores de fugirem, isso significa que Paracatu já não é tão pacata assim), jardim (provavelmente outro jardim, que não é gramado e nem tem plantas) e terreno com 700 m2.
Para as dinâmicas e a vivência do que é ser escritor, serão confirmados nos próximos dias os nomes dos autores. Escritores diversos ainda estão sendo estudados. Provavelmente alguns dos contratados da própria editora será convencido a participar.
Haverá uma equipe de cinco pessoas trabalhando diretamente com a casa (mas não estarão vivendo nela, pela falta de quartos), sendo uma cozinheira, um ajudante, um coordenador de trabalhos, um coordenador geral e um diretor (como não há um faxineiro sequer, preparem-se para varrer o chão e lavar os próprios banheiros). Haverá, todos os dias, café da manhã, almoço, lanche da tarde e janta. Em meio às palestras, cursos e dinâmicas, contaremos ainda com diversos passeios por Paracatu, como a cachoeiras, minas, reservas ambientais e todo Centro Histórico. Para isso, temos total apoio da Secretaria de Cultura, Prefeitura Municipal e Academia de Letras do Noroeste de Minas. Esses passeios são tão importantes que é preciso citar duas vezes, para enfatizar.
Conforme a proposta inicial, os escritores selecionados terão 6 meses para finalizar uma obra que não deve ser maior do que 300 páginas em formato 16 cm x 23 cm para publicação pela Editora Buriti. Por contrato, a Buriti terá dois anos para a publicação da obra. Se a sua obra ficar menor, não tem problema: é só aumentar o tamanho da fonte e/ou das margens, visto que a especificação do tamanho pela editora se refere apenas a quantidade de páginas e tamanho do papel. Se ficar grande, vale o mesmo: esprema as margens e diminua a fonte. Com Garamond 9 sua triologia vira edição de bolso em volume único. Como ninguém vai ler mesmo, não há problema.
Tenho a certeza de que será uma experiência única e maravilhosa. Aos poucos, tudo se ajustará! Serão dias muito especiais, inesquecíveis. Mas o melhor de tudo é que desta experiência nascerão obras de grande qualidade, mesmo que tenham de ser escritas nos seis meses posteriores.