Não é todo dia que você se depara com um blog que dá prazer ler. A blogosfera é habitada principalmente por escritores inexperientes, que ouvem o galo cantar mas não sabem onde. Mas eu tenho tido a sorte de descobrir, nos últimos anos, alguns blogs que são verdadeiras pérolas de literatura. Resolvi começar a compartilhar com os meus leitores aquilo que ando lendo. Eu já ensaiara um movimento semelhante há algum tempo, mas perdera o foco porque, de forma geral, os blogs mais legais de ler são os que não tem logos bacanas para pôr na sidebar, e também porque alguns dos melhores blogs que achei ficaram inativos. Agora volto a fazer isso, e decidi que eu mesmo vou fazer os banners para os blogs que não os tiverem.
Começo hoje com o blog, “A Verdade Sobre Dr. Nilo”, de Marcus Proença.
Proença é um escritor pronto e acabado. Seu gênero é a ficção curta, de cunho satírico humorístico, com leves toques de surrealismo, alguma sensualidade puxada para o absurdo e uma deliciosa capacidade de entremear sua ficção em fatos reais. Some-se a isto o fato de as histórias serem baseadas em um personagem fictício (o tal Dr. Nilo) e temos pronto o coquetel para uma espécie de folhetim picaresco de excelente qualidade. E ainda por cima o Dr. Nilo escreve post mortem, para adicionar ainda mais iguaria ao prato fino oferecido pelo autor.
A crônica mais recente do blog talvez seja a melhor de todas (eu ainda não li o blog inteiro, apenas as seis últimas postagens, mas acho difícil igualar a genialidade do texto “Gláuber Rocha, José Sarney e uma Alemã Sem Calcinha”. Dr. Nilo se insere (na história e na tal alemã) no contexto da gravação do documentário “Maranhão 66”, feito por Gláuber Rocha a pedido de José Sarney. O texto do autor é tão seguro que o leitor desavisado demora a perceber que estamos diante de um texto ficcional que incorpora personagens reais, e não de uma versão curta do roman à clef.
Entre os textos que já li, encontram-se também um texto sobre a ficção erótica do Dr. Nilo por Maria Bethânia e a estranha e escatológica narrativa da “alucinação anal” vivida pelo famoso médico durante uma festa da soçaite carioca regada a muita cocaína.
O autor parece vivido e experiente (ou então é um gênio precoce do calibre de um Rimbaud), então deve saber o que faz. Talvez alguns personagens envolvidos “ficcionalmente” se sintam ofendidos e o processem. Não sabemos quanto tempo esse blog genial vai estar no ar. Visitem rápido e leiam tudo!