O autor que se preocupa mais com o “mercado” do que com escrever corre o risco de ser só mais um medíocre que vende. Mas eu gostaria de ser o medíocre que vende: até já fantasiei sobre um pacto assim com Mefistófeles. Seria até fácil: medíocre eu já sou, preciso só começar a vender.
Nietzsche disse, não exatamente com essas palavras, que somente os grandes apetites são capazes dos grandes jejuns, em nome da própria glória.
Não gosto de marcar livros, prefiro que eles me marquem.
Ver uma mulher bonita e toda tatuada é como ver um bom livro, em uma bela edição, todo coberto de anotações à margem e trechos sublinhados que nos impõem a interpretação do leitor anterior e nos proíbem de imaginar novos significados.
Dizem que você vai se deprimindo com a velhice, mas não por causa de ficar velho. Meu professor de filosofia dizia isso na faculdade. Única frase dele que guardei. Hoje acho que entendo, não é eu estar ficando grisalho e gordo o que me incomoda mais, o que me incomoda é eu ouvir “Johnny Love” e me sentir emocionado.
E não me emociono porque a música seja excepcionalmente boa, mas porque qualquer faixa comercial dos anos 80 é mais artística e sensível do que a música de hoje. Metrô era lixo, mas está quilômetros acima de tudo que toca no rádio, inclusive a pseudo-MPB de hoje, que fica devorando os corpos (sepultados ou não) de gente como Caetano, Tom, Gil e Milton.
Um professor americano fez uma análise das características das versões “cover” atuais de canções famosas dos anos 50 a 80 e concluiu: para modernizar uma canção, você deve simplificar a harmonia, complicar o arranjo, aumentar o volume geral, botar um vocal exagerado e diminuir a variação de ritmo e volume.
Enfim, “modernizar” uma canção é acabar com a suas sutilezas. O mundo de hoje é um mundo burro, que só consegue captar os altos volumes e os exageros vocais. Isso é que mais me deprime. Varizes e calvície eu tiro de letra.
Provocações e Aforismas, 11
Publicado em: 29/12/2014
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reflexões