Faz um tempinho que eu tinha aposentado os tutoriais de software aqui no blog porque meu foco havia se voltado quase exclusivamente para literatura e discussões literárias, tanto que eu arquivei os antigos posts sobre LaTeX. Decisão, claro, que também teve a ver com o fato de que LaTeX não é muito útil para blogueiros, a menos que seu blog seja sobre matemática e você utilize as extensões TeX do Wordpress.
Recentemente, porém, ao pesquisar como transformar textos deste blog em livros eletrônicos, acabei aprendendo um caminho que permite fazê-lo de forma relativamente fácil, sem utilizar programas caros e gerando arquivos validados plenamente pelo epubcheck
(a ferramenta de verificação de erros mantida pela IDPF). Uma das coisas que mais me atraíram na solução que eu encontrei é que ela se baseia no “Linux Way”: fazer as coisas de maneira simples, utilizando a linha de comando e de forma reutilizável.
Se você utiliza Linux e sabe o que é uma linha de comando, vou compartilhar minha solução, para que você também crie seus livros eletrônicos de forma rápida e fácil.
Software utilizado
Para criar livros eletrônicos vamos precisar dos seguintes softwares, que não devem estar disponíveis na sua distribuição Linux e precisarão ser instalados manualmente.
- Pandoc: ferramenta de conversão universal de textos.
- Calibre: conjunto de ferramentas de leitura, correção e edição de e-books.
- Kindlegen: ferramenta oficial da Amazon para criação de arquivos para os antigos modelos do Kindle (para os novos modelos utilizaremos o Calibre).
- epubcheck: ferramenta para verificar se arquivos ePUB estão de acordo com as especificações da IDPF (International Digital Publishing Forum).
- TeXLive: formatador de documentos capaz de gerar PDF, entre outros formatos.
- Inkscape: editor de imagens vetoriais com que faremos as capas.
Destes, somente Pandoc e Calibre são realmente necessários. O Kindlegen pode ser dispensado se você não pretende criar arquivos para versões do Kindle anteriores ao Fire. O epubcheck
pode ser dispensado se você confiar em minha palavra de que os arquivos são perfeitamente conformes aos padrões. Finalmente, o TeXLive pode ser dispensado se você não pretende criar PDF.
Além dos cinco pacotes acima (que, exceto o Kindlegen e o epubchek, são, na verdade, coleções de programas em vez de programas isolados) você vai precisar dos utilitários bash
, zip
, unzip
, tar
e lzma
— mas esses você certamente tem instalados no seu sistema.
Porque é “fácil” criar o ebook.
A ideia é criar livros eletrônicos em pelo menos dois formatos, ePUB e Kindle, utilizando, para isso, um único arquivo de texto com formatação simples. Este arquivo de texto pode ser escrito em qualquer editor, mas eu recomendo um destes abaixo:
- Geany com o plugin Markdown.
- Gedit (padrão do sistema) com plugin Markdown
- CuteMarkEd.
O seu conteúdo será armazenado em um único arquivo estruturado conforme a sintaxe Markdown Extra, que é praticamente o formato de arquivo mais fácil do mundo:
- Comece cada capítulo com uma linha de título assim:
# Título do capítulo\
. - Digite o texto em blocos separados por linhas em branco.
- Texto enfatizado vem
*entre asteriscos*
. - Se precisar de mais alguma opção (tabelas, links, inserção de imagens etc.) basta ler o tutorial do Michel Fortin ou a descrição de John McFarlane.
- Apenas tenha o cuidado de, no começo de seu arquivo, incluir cinco linhas com as seguintes informações, necessariamente nesta ordem e sem espaços no começo da linha:
% Título
% Nome do autor
% data (no formato AAAA-MM-DD)
% endereço de publicação
% licença
Estas informações serão utilizadas para construir o arquivo de configuração e serão inseridas, por exemplo, dentro do livro eletrônico.
Apenas lembre que no seu livro você dificilmente precisará de blocos formatados em fonte fixas, hiperligações (links) e múltiplos níveis de títulos, que podem fazer com que o arquivo fonte pareça mais complicado do que é.
Como o arquivo Markdown vira um e-book?
Esta mágica é executada pelo Pandoc, um programa que “traduz” as instruções contidas no arquivo de texto e cria outros formatos a partir dele. No caso específico da criação de e-books, eu percebi que depender somente do Pandoc não seria suficiente porque ele, por exemplo, não estava
Além do e-book
Estamos aqui falando da possibilidade de criar livros eletrônicos, mas o Pandoc, que vamos utilizar para fazer a conversão, vai muito além disso: o seu arquivo fonte poderá ser facilmente utilizado para levar o seu texto a uma série de outros formatos:
- XHTML e HTML 5 (documentos de hipertexto para a internet)
- LaTeX (documentos de texto com marcas de formatação para geração de PDF)
- RTF (documento de texto com marcas de formatação para leitura em processadores de texto)
- DocBook (documento de hipertexto que pode ser usado para gerar outros formatos)
- OpenDocument (documento de hipertexto padronizado pela ISO)
- ODT (documentos de texto do LibreOffice e do OpenOffice)
- Word docx (documentos de texto do Microsoft Word)
- EPUB (livro eletrônico padronizado pela IDPF)
- InDesign (documentos de texto para o Adobe InDesign)
Além destes formatos, o Pandoc trabalha com texto puro e dezenas de formatos de arquivos de marcação wiki e assemelhados. Seu contéudo nunca ficará “trancado” em um binário. Escrevendo em Markdown, portanto, você terá o seu texto disponível em uma grande variedade de formatos assim que necessário. Esta é uma grande segurança, pois nada é mais incômodo para um autor do que ficar se preocupando com o formato adequado de arquivo.