Existe um imenso preconceito contra a comunidade morta-viva nesse mundo, algo tão injusto que é inacreditável que nada tenha sido feito até agora para criar uma ponte entre os mortos-vivos e a população em geral. Mas acredito que já é o momento de deixarmos de lado velhas atitudes e começarmos a construir um novo paradigma para o caso.
Depende um pouco dos zumbis também. Digamos que eles têm um problema de imagem que precisa ser abordado. Eles tendem a ser apresentados de uma maneira muito negativa: um bando de cadáveres putrefatos se arrastando pelas ruas entre grunhidos, moscas infectas e odores ruins e aquela coisa da busca de cérebros também. Isso é o que os olhos da população viva conseguem enxergar, ainda que seja somente um comportamento minoritário, de alguns poucos indivíduos mais extremistas. Zumbis em geral são apenas caras comuns que tentam levar adiante sua pós-morte o melhor que podem.
Precisamos de alguma legislação para dar a essa re-gente uma posição mais digna em relação aos vivos. Deveria ser crime andar por aí com uma escopeta atirando nas cabeças deles. Precisamos tornar a discriminação contra os mortos-vivos algo ilegal, iniciar esforços positivos para incluí-los em escolas, empregos e na mídia também. Veja bem, o que impede que você aceite que sua filha se case com um? Digamos que se ele fosse um cara legal, não muito apodrecido e não muito obcecado por sangue, que mal haveria? A maioria das mulheres não adoraria encontrar alguém mais interessado em seu cérebro do que em suas nádegas e peitos? Diante de um zumbi tão comportado você não concorda que poderia não mantê-lo o tempo todo sob a mira de seu rifle?
Do ponto de vista da comunidade morta-viva, eles precisarão fazer certo esforço. Aprender a falar de novo, você sabe, pelo menos algum tipo de língua. Readquirir hábitos como sabão, ou desinfetante, e cremes dentais com flúor. Devem começar a variar sua dieta, trocar de roupas, buscar atendimento para suas feridas em vez de esperar pelas varejeiras.
Nesse ponto eles poderiam começar a fazer passeatas pela cidade para promover uma imagem positiva de sua comunidade. Isso já acontece na minha cidade, e é um tremendo espetáculo, ainda que os vivos em sua maioria preguem suas janelas e bloqueiem suas portas com pranchas de madeira quando acontece. Poderia se tornar um grande dia para reunir as famílias, desde que as famílias dos vivos participem dentro de carros blindados, protegidas por torres de metralhadoras.
No fim das contas, a construção de uma imagem positiva tem um longo caminho a ser trilhado antes que os preconceitos acumulados contra os zumbis, fruto da ignorância, do medo e do trauma de ver amigos e parentes devorados vivos, sejam superados por uma atitude mais tranquila.
Gostemos disso ou não, os zumbis vieram para ficar. E eu acho que deveríamos aceitar sua vinda e fazer com que se sintam bem recebidos. Mesmo porque não há muito o que se fazer.