Neste sábado correu o mundo a imagem de uma criança agredida por um grupo de torcedores de futebol porque ousara comemorar o gol marcado pelo seu time do coração estando ela no estádio do adversário. Sabe o que isso me faz pensar?
Talvez pudéssemos definir “democracia” como a liberdade de torcer para seu time na arquibancada do adversário. Em um país polarizado como torcidas de futebol, estas parecem ter chegado às raias do absurdo.
Que os níveis gerais de ignorância seguem subindo e as pessoas usam adereços com dizeres que não sabem o que significam. Aquela mulher não é realmente uma antifascista, ela estava usando um cachecol de uma torcida organizada por causa de suas cores e por causa das simpatias pessoais que tinha por alguém da torcida. Possivelmente o fazia só porque tinha também o símbolo do Internacional.
A questão aqui é a diferença entre ter, ostentar e ser.
Não basta que você possua e/ou ostente um objeto para que ele seja parte de sua identidade. Infelizmente as pessoas não percebem isso e procuram acumular bens materiais e símbolos abstratos como se, com isso, agregassem valor a si mesmas e à sua identidade.
A superficialidade do mundo moderno deixa tudo, porém, à flor da pele, fazendo com que os símbolos, os valores, as ideias, as experiências, tudo se reduza a ostentação. Mas identidade não se compra, não se tatua e não é algo que você possa dizer da boca para fora.
Você não precisa possuir coisas para ser alguém. Você não precisa vestir certa roupa para ser alguém. Sua identidade não é dada pela sua tatuagem tampouco. Tudo isso é acessório, fica à flor da pele ou meramente a toca.
Antifascista não é aquele que usa um cachecol ou que diz odiar o fascismo. Antifascista é aquele que em sua vida e seus valores difunde o humanismo e a positividade que o fascismo nega.
Antifascista é aquele que ama ao conhecimento, que aceita o diferente, que difunde tolerância, que não compactua com a discriminação, que coopera com o seu semelhante, que ajuda aos desvalidos, que acolhe o próximo.
Não adianta você formar um grupo «antifascista», usar distintivos e uniformes, organizar reuniões e ações. Na verdade, todas essas coisas são perigosas para o espírito antifascista porque é exatamente delas que o fascismo gosta: grupos, emblemas, uniformes, comícios e ataques.
Se você não tolera que uma criança exista com uma camisa de cor diferente da que você veste, você está caminhando em direção aos braços do fascismo e nenhum cachecol vermelho o salvará.