29
agosto
há 11 anos
Após causar fúria na blogosfera literária e nas redes sociais com as suas opiniões sobre literatura, o escritor e editor Rafael Draccon resolveu se explicar. Não devia, mas resolveu. Digo que não devia porque explicações nunca explicam de verdade. Toda explicação é um remendo. De que adianta agora dizer que não disse? Quantos lerão o desmentido? Mas, pior, quantos acreditarão na sinceridade do desmentido, escrito com a cabeça fria e analisando ponto a ponto o que foi publicado? Por isso, na necessidade de contestar o […]
29
agosto
há 11 anos
Houve um tempo em que a epítome da injustiça poética era julgar o livro pela capa. Não só esse julgamento ficou mais difícil hoje, dada a proliferação das facilidades para produzir belas capas, como se tornou mais violenta a briga em torno dos acessórios. Afinal me parece que, no mundo editorial, faz-se de tudo para não ter que lidar com literatura, afinal [sic]. Por acessórios eu me refiro a tudo aquilo que se espera que os escritores façam, além de escrever. Não basta o cara […]
25
agosto
há 11 anos
Este domingo me ofereceu um desafio literário incomum: minha filha me pediu que lhe ajudasse a escrever uma redação para um concurso. Gabriele tem, aos dez anos, toda a ingenuidade e a fantasia de uma criança que ainda não perdeu a pureza. Ela ainda não conhece quase nada das dificuldades da vida, das frustrações, dessas coisas que nos fazem desperdiçar sorrisos e cabelos com o passar dos anos enquanto vemos esgotarem-se todas as oportunidades que tínhamos sonhado. Por isso ela acha que é possível, da […]
10
agosto
há 11 anos
Fernando Pessoa escreveu em 1914 um poema chamado “Uns Versos Quaisquer”, que pode ser interpretado como um breve ensaio sobre a saudade, ou ainda melhor, sobre a “saudade falsa”, este sentimento que tanto faz parte da minha poesia (nem tanto da dele). Vive o momento com saudade dele Já ao vivê-lo… Barcas vazias, sempre nos impele Como a um solto cabelo Um vento para longe, e não sabemos, Ao viver, que sentimos ou queremos. A ideia de que o momento já deva ser vivido com […]
3
agosto
há 11 anos
Ando pensando em reavaliar meus conceitos sobre a inteligência humana. Não bastassem as recentes descobertas que evidenciam que a maioria de nossos comportamentos são reações a estímulos determinados e que, conhecendo estes, é possível induzir àqueles, não cessam de surgir evidências, também, de que os bichos podem apresentar comportamentos muito mais racionais do que o de certos “senhores da natureza”. Eu tinha ido fazer compras enquanto minha mulher arrumava o cabelo em um salão de beleza. Enquanto procurava uma vaga para estacionar, parei diante de […]
29
julho
há 11 anos
Começo a semana pensativo sobre muitos problemas pessoais, entre os quais um resfriado desses de ficção científica, e me deparo subitamente com mais chorumelas sobre como os escritores nacionais, tadinhos, são maltratados pelos leitores nacionais. O tema não é novo e nem é simples, o que é simples é a constatação de que muitas lágrimas já foram choradas nesse velório e ninguém enterra o defunto. Nem pretendo eu, não hoje, mas começo a “dar uns toques” às carpideiras de que é hora de fechar o […]
21
julho
há 11 anos
Entre todos os empregos do mundo, talvez os bancos sejam os que proporcionam o maior número de histórias curiosas, não só dos complexos relacionamentos entre os funcionários e a hierarquia, visível e invisível, mas também da interação com toda uma fauna de clientes e seus comportamentos surpreendentes. De vez em quando eu me lembro de algum episódio, ocorrido comigo ou com algum amigo e, se houver transcorrido suficiente tempo para dificultar a identificação do personagem, me disponho a compartilhar com os leitores. O episódio de […]
23
junho
há 11 anos
Quando perdemos a noção de nossos direitos, pode às vezes parecer opressão quando querem nos entregar aquilo que devia ser nosso [sugestão de cena ilustrativa: um faquir se recusando a receber pagamento pela sua apresentação]. Às vezes nos acostumamos tanto a entregar de graça o que nos é tão caro, que chamamos de prostituição quando pensam em pagar-nos. Estas duas frases me vieram à mente a propósito de um [texto publicado hoje no “Bacia das Almas”]) pelo +Paulo Brabo. O autor está perplexo porque recebeu uma […]
16
junho
há 11 anos
Não percebi quantos dias passei naquele lugar. Dizem-me que foram cinco. Nos primeiros dois ou três o homem do quepe tentou extrair de mim alguma informação sobre as pessoas com quem estivesse envolvido. Mas de alguma forma, segundo consta dos relatórios a que hoje tenho acesso, graças ao habeas data, eu apenas circulava em torno da ideia de ter entrado em algum barco em companhia da falecida Jurema, de ter saído sozinho e a deixado lá. Assinado um tal Tenente Cavalcanti.
14
junho
há 11 anos
Tardou ainda por algum tempo incontável, mas não demasiado que nos desesperasse. Soou uma outra buzina de navio indo para o mesmo lado do primeiro. Ouvimos o já conhecido chapinhar de pás, sentimos o farfalhar das roupas da multidão, talvez ansiosa, acendeu-se a trêmula luz vermelha de uma lanterna e o batel encalhou na areia. Desceu o barqueiro vestido da mesma maneira monacal que os anteriores, o rosto recoberto pela sombra de uma dobra de tecido — e dentro dela um brilho desagradavelmente avermelhado e solitário.