Letras Elétricas
Textões e ficções. Tretas e caretas. Histórias e tramóias.
by J. G. Gouvêa

A Responsabilidade do Autor

Publicado em: 09/03/2009

Em primeiro lugar, comprometa-se com a qualidade. A maior parte dos leitores, especialmente aqueles que você quer que leiam seu trabalho (ou seja, editores, patrocinadores, possíveis compradores, etc.), são pessoas de razoável cultura que costumam ler outra coisa. Estas pessoas não têm nenhuma paciência: elas vêem dezenas de textos por dia e quando encontram erros toscos, simplesmente fazem “tsc, tsc” e vão para outro endereço.

Qualidade quer dizer, em primeiro lugar, qualidade da linguagem. Não se permita errar. A maioria dos novos escritores parece que nem sabe que se digitar F7 no Word terá acesso a uma ferramenta básica de correção ortográfica. Erros ortográficos toscos são simplesmente imperdoáveis.

A qualidade do texto em si é também importante. A maioria dos novos escritores têm o péssimo hábito de achar que são gênios e que a primeira versão de qualquer bobagem que escrevam já está boa. Um texto de qualidade precisa passar por várias e impiedosas revisões. Se você se ofende quando apontam erros no que faz, o seu problema é psicológico. Erros apontados significam que alguém foi legal o bastante para lhe mostrar como acha que você pode melhorar.

Se você já consegue fazer um bom texto, então é hora de pensar em apresentação. A maior parte dos sites que vejo na web são simplesmente mal-feitos. Fontes pequenas, cores inadequadas, layouts complicados, aparência que nem chega a ser amadora (porque amadores fazem bem-feito).

A função da apresentação é facilitar o acesso ao conteúdo. Isso quer dizer que tudo aquilo que não ajuda deve, pelo menos, evitar de atrapalhar. Um erro muito comum, especialmente em autores de terror, é colocar texto em branco sobre fundo preto. Isto força a vista do infeliz que tenta ler, fazendo com que ele acabe desistindo.

Outro erro grave é fixar o tamanho da fonte, impedindo que um leitor com dificuldade de leitura aumente o tamanho para poder ler. Infelizmente esse erro é ainda comum em pessoas que usam o Dreamweaver para construir seus sites.

Usar fontes do tipo com serifa (Times New Roman) para textos que serão lidos na tela é também um fator que dificulta: prefira fontes comuns, sem adornos (Arial, Helvetica, Verdana etc.).

Evite o uso de cores complementares ou muito fortes. Use um fundo de cor neutra (azul-claro, amarelo-claro, rosa-claro, verde-claro, cinza-claro) com uma fonte de cor preta para o texto (alguma cor escura como vinho, azul-marinho ou marrom é aceitável para pequenos títulos).

Por fim, se você não tem como ter seu próprio serviço de hospedagem e desenvolver seu próprio layout de site, então use um serviço gratuito de qualidade (como o wordpress, o livejournal ou o blogger) que lhe garantirá boa apresentação de conteúdo e boa organização.

Tendo chegado a esse ponto, é hora de você começar uma estratégia de divulgação. A primeira coisa a ter em mente é que ninguém está interessado em você: antes de esperar que as pessoas visitem seu site e comprem seu livro você tem que fazer com que elas se interessem.

Isso não é exatamente impossivel, mas a maioria das pessoas acha que entrar numa comunidade como esta e postar um tópico “ei, veja meu blogue” já é suficiente. Não é. Ninguém vai lá ver o seu blog se não achar que vale a pena. O certo é você chegar nas comunidades (há várias, além do Orkut inclusive) e cumprir um ritual semelhante ao que teria em uma nova turma de faculdade ou entre os novos vizinhos quando se muda:

Chegue, se apresente, converse com as pessoas, comente o que fazem, mostre o que faz, comente o que fazem, convide para visitarem sua “casa”, visite as “casas” delas, etc. Enfim, faça amizades virtuais. Prestigie os outros para que eles te prestigiem. Lembre-se que por mais comunidades que você possa encher com mensagens de divulgação de seu blog, nada será melhor do que ver pessoas que passaram a gostar de você divulgarem o seu trabalho espontaneamente.

Não espere que pessoas de nível igual ou superior ao seu se encantem por você, elas, em geral, pelo menos no início, serão críticas. Quem vai te elogiar será principalmente pessoas a quem você se mostrar superior pela qualidade de seu trabalho. Além disso, o novo sempre causa estranheza: você geralmente será elogiado somente depois que as pessoas se acostumarem com você. Mesmo assim, confie mais nas primeiras críticas do que nos últimos elogios. Amigos elogiam. Outra questão está no estilo “sujo” da cultura undergound. Na minha opinião, há cerca de vinte anos ou mais, estabeleceu-se como mainstream, ou seja, como o “normal” em termos de literatura, o recurso a termos chulos, o relato de coisas feias, vícios, crimes, etc. Hoje em dia todo mundo faz isso. Esta é a estética de nosso tempo.

Portanto, cultivar uma estética “underground” baseada nisso é como fazer uma versão revolucionária da Banda “Calypson”…. ou seja, pode até funcionar, mas não é o que diz ser. Na minha opinião o underground como era entendido até os anos 80 virou mainstream. O que era rebelde virou establishment. O que era alternativo virou impositivo.

Os sinais estão trocados. O sistema é rebelde. O que não muda é a necessidade de buscar fazer bem feito.

Arquivado em: incompletos
Assuntos: software