Nada é tão difícil na vida quanto superar fases. Tomar decisões é algo muito fácil, enfrentar as consequências é algo mais complicadinho. No momento em que você decide tomar uma atitude você se sente um super herói, capaz de ir até o fim com todas as suas decisões e determinações. Infelizmente o super herói não é o Superman, mas o Ultraman. Explico: nossas decisões não são invulneráveis e imaculadas, motivo de admiração para todos que nos veem e conhecem. Em vez disso, elas são precárias e frágeis, tomá-las já implica em uma confissão que faz com que as pessoas nos olhem torto. O pobre Ultraman não conseguia lutar contra os monstros por mais do que alguns minutos e precisava ir embora. Na vida de hoje a impressão que eu tenho é que eu estou sempre indo embora, sempre suportando alguns minutos e depois voando para o meu planeta distante. Como é difícil persistir!
Hoje admito que tenho um problema: estou viciado em internet. Não, não sou hipócrita de dizer que esse é um vício terrível que me destruirá porque eu não sou desses alarmistas. O «vício» a que me refiro é algo como um hábito que se arraigou e do qual é difícil ficar livre. Não é difícil por causa de uma noia incontrolável, mas porque vivemos em um mundo que nos exige interagir eletronicamente.
Então eu vivo, como muita gente, o dilema de saber que o uso da internet está me modificando, mas ao mesmo tempo reconhecer que eu não tenho a opção de me abster dela definitivamente. Eu não gosto das mudanças que estão acontecendo, tanto quanto não gosto de envelhecer. Melancólico isso.
O que me resta é controlar o acesso daquilo que me faz mais mal. Desde sábado estou vivendo sem Orkut. Resta-me ainda um perfil fake para usar, vinculado a uma única comunidade, mas ele também será apagado até o final do mês. O meu perfil original não será apagado, mas isso apenas porque eu ainda posso querer um dia voltar e copiar algum texto meu que deixei naquele saite de relacionamentos. Essencialmente posso dizer que vivo sem Orkut, que estou vivendo sem Orkut.
E que bela vida é! Estou trabalhando de novo no romance que eu comecei a escrever faz quatro anos! Quem sabe até o termine antes de morrer senil! Hoje consegui fazer uma longa caminhada, cumprimentei mais de vinte conhecidos. Agora depois do almoço vou andar de novo, apesar do calor. Vou visitar algumas lojas, comprar uma bicicleta, marcar consulta no dentista. Coisas que só fazia pela internet ou por telefone eu vou fazer pessoalmente. Talvez consiga até visitar alguns amigos nestas férias. Estou devendo uma visita ao Nando Pinto, lá em Astolfo Dutra, faz quase dez anos. Eu tenho um amigo que mora a menos de um quilômetro de mim e eu não o visito faz um ano!
Mas apesar disso, resta a síndrome de abstinência, este monstro de olhos vermelhos e cabeça inchada que persegue os que tentam se livrar de suas pequenas escravidões. Estou aqui imaginando como desenvolver a trama do romance e não consigo ficar nem dez minutos sem pensar em verificar o que terão respondido nos tópicos que criei nas últimas comunidades de que participei. Mas estou resistindo.