Após uma gestação demorada e cheia de idas e vindas, finalmente está saindo, pela Editora Multifoco, o meu romance de estreia, Praia do Sossego. Escrito penosamente ao longo de onze anos (entre 1999 e 2010), este livro é importantíssimo para mim, quase um filho, pois contém trechos escritos em cada um desses onze anos (ainda que a revisão final seja entre 2009 e 2010). Trata-se de um verdadeiro testemunho de minha carreira literária, uma obra que contem todas as características básicas de minha ficção e de minha poesia de juventude, mesclando romantismo quase piegas com cenas picantes de sexo, citações existencialistas, ingenuidade juvenil, aventuras pelas estradas do Brasil e um cuidado quase gótico com o vocabulário.
Escrevê-lo foi praticamente uma Ilíada, uma aventura sem rumo e sem limites, que me custou muitas negativas mal educadas e muito desprezo por parte de pessoas que se acham escritores só porque pagam para publicar seus romances melosos e participam de movimentos inexpressivos.
E eis que aí vem ele! A editora já me mandou o sinal verde, os livros estão na gráfica e começaram a ser-me entregues, sempre em lotes de trinta de cada vez, a partir do final do mês. Lançá-lo representa um momento de profunda realização, ainda que hoje eu tenha consciência de que teria escrito de forma diferente quase dois terços de suas páginas. Aliás, exatamente por isso. Se não o lançasse, eu o mutilaria de novo e perder-se-ia esse testemunho importante de minha juventude e de seus sonhos literários.
Começa agora a parte complicada: pôr para girar as engrenagens de minhas amizades, meus contatos com antigos professores, com as pessoas que acreditam em meu talento. Vou precisar gastar dinheiro e provavelmente não recuperarei vendendo os exemplares. Mas ponho no mundo o livro, que me custou sangue e pele.
Mas de que trata esse livro que tanto custou a sair?
Praia do Sossego é um romance de formação, uma narrativa sobre o amadurecimento. O protagonista, Ricardo, passou por um grande trauma recente e se encontra deprimido. Não vendo solução em sua vida, ele decide fazer uma viagem maluca para distrair-se. Nesta viagem, mal planejada e sob o efeito ainda de sua depressão, ele chega a uma cidade distante e faz novos amigos.
Nesse lugar obscuro, do qual apenas ouvira falar (a tal Praia do Sossego), ele tem a chance de redescobrir o amor, superar sua perda pessoal e reencontrar seu rumo na vida, porém acaba envolvido em uma confusão pela qual não esperava.
É um romance de poucos personagens com nomes: Ricardo, Helena, Cláudia, Júlio, Paula, Toninho são os únicos que conhecemos pelos prenomes e que possuem falas. Também não é um romance de ação, mas uma história romântica para quem tem saudades dos anos oitenta e noventa.
A economia de personagens é fruto de um foco: originalmente havia mais, porém eu os fui “matando” ou simplesmente abandonando à medida em que fui revisando o livro. A morte de alguns personagens foi dolorosa: pela necessidade de eliminar um casal de personagens que parecia sobrar na maioria das cenas da Praia eu tive que limar uma magnífica cena romântica sob o luar que me custara um mês escrevendo. A cena se foi, relegada a um conto ainda inédito.
E assim eu cheguei ao conjunto que hoje perfaz este livro que me chegará as mãos nos próximos dias. Poucos personagens, vários cenários e uma ação mais concentrada em reações e reflexões do que em feitos e aventuras. Com esse conjunto lhes conto uma história que é essencialmente romântica, embora dotada de um certo “corte” enviesado que não é exatamente o das histórias românticas estilo Sabrina e Júlia. Essa é a história que eu vou convidar-lhes a conhecer quando lançar, em algum momento do mês de junho, o meu romance de estreia.