Vão me xingar dos nomes mais diversos, mas hoje tive de admitir: sou do tempo em que os divertimentos inocentes eram bem mais inocentes e as coisas simples eram bem mais fáceis de conseguir. Enquanto estou aqui tentando esquecer uma crise de fígado vendo bobagens na internet, eis que ouço a patroa e as crianças na sala, vendo televisão. O simples fato de haver uma televisão ligada no domingo à tarde já significa que existe uma neblina de estupidez no ar, mas a gente não liga televisão para aprender, mas para distrair. O caso é que a atração que estava passando me fez pensar que, talvez, a entrevista forjada do Gugu com líderes do PCC não foi o momento mais escroto da história da televisão brasileira — e já vou explicar por que.
A “atração” (entre aspas porque deveria causar repulsão) é um quadro do programa da Anna Hickman que se chama “Interrogatório” e consiste em fazer convidados pseudofamosos adivinharem, através de tentativa e erro, com dicas dadas a cada erro, uma cena de crime. Funciona assim: alguém da plateia escolhe um dos convidados do dia, e diz que ele matou alguém famoso usando algum método inusitado. Os convidados, claro, estão isolados acusticamente do auditório. Durante vários minutos a seguir a apresentadora indagou umas dez vezes a cada um “quem você matou”, “por que você matou” e “como você matou”. A atração foi divertida, ao que parece, pois a plateia deu gargalhadas com a dificuldade de Sidney Magal para adivinhar que teria matado Neymar na praia com uma linguiça por causa de uma cerveja.
Ora, dirão, os descolados, por que você está escandalizado com isso? É apenas uma diversão inocente. Achar graça da ideia de matar alguém é apenas uma coisa divertida para se pensar num domingo à tarde. Errado estou eu, de achar isto deprimente. Mas eu não achei graça nenhuma, tanto quanto Neymar não deve ter achado. Mas errado estou eu.