O planeta levou bilhões de anos para desenvolver vida. Depois levou mais uns bilhões de anos até produzir mamíferos. Mais algumas dezenas de milhões de anos para produzir primatas. Muitas centenas de milhares de anos para produzir hominídeos inteligentes. Dezenas de milhares de anos para produzir o primeiro instrumento musical. Muitos séculos para inventar a música polifônica. Mais alguns séculos para aperfeiçoar uma notação musical eficiente. Quase três séculos ainda para inventar a primeira forma de gravação sonora, o fonógrafo de rolo. Levou 10 anos para inventar o disco, mais dez anos para fazê-lo em vinil monoaural. Nesse meio tempo inventou a fita magnética, que possibilitou a produção em massa. Levou 26 anos até inventar o Long-Play de 33 rpm. Levou 20 anos até inventar o som estéreo. Levou 8 anos para inventar o som quadrifônico. Levou 6 anos para inventar o Dolby-Surround. Levou 4 anos para inventar a gravação digital. Levou 2 anos para inventar o CD. Levou 7 anos para inventar o arquivo digital de música. Levou 4 anos para inventar a interface USB. Levou 6 anos para inventar o pendrive.
Então os jovens fãs brasileiros de música pop, vendo todo o progresso da humanidade rumo à reprodução sonora fácil, barata e de qualidade, foram inspirados pelas forças das trevas a adquirir e utilizar um equipamento que é a epítome de sua evolução espiritual e cultural:
A caixinha de som portátil, monoaural.
Não sei quem foi o imbecil que teve a ideia de pegar o som horrível dos telefones celulares e transformar num aparelhinho tosco que nem mesmo serve para fazer ligações telefônicas. Mas sei quem são os que estão andando pela rua com essas coisas ridículas que reproduzem o som sem qualquer profundidade.
A popularização destes aparelhinhos é um sinal dos tempos. Mostra que a nossa juventude ficou para trás em termos de civilização. Não consegue mais acompanhar o mundo. O mundo ficou mais burro, as pessoas leem menos. Ficou mais surdo, a música de hoje não tem nuances. Ficou carregando um trocinho mixuruca que nem consegue reproduzir uma reverberação.
Meus parabéns aos jovens de hoje, especialmente aos fãs de funk, que são os maiores usuários dessas caixinhas. Chega desse troço chato de evoluir e aprender, melhor voltar aos bons velhos tempos, alguns já estão voltando, e já chegaram a 1920. Estão ouvindo sua “música” em aparelhos que reproduzem um som compatível com aquelas radiolas de madeira que nossos bisavós usavam para ouvir as primeiras estações de rádio do mundo.
Sintam-se modernos, meninos. E não adianta xingar nem ficar ofendido. Quem te xinga e te ofende é o seu mau gosto.