Tudo começou nos tempos do Orkut. Eu já havia utilizado alguns perfis falsos (“fakes”) para postar naquela plataforma algum conteúdo mais polêmico. Alguns desses perfis eram verdadeiramente lendários, como o “Sumo Sacerdote da Silva”, suposto líder da “Igreja Orkutista da Salvação”, e a depravada “Sofista Loura” (uma alusão a Sophia Loren), que publicou na “Novos Escritores do Brasil” um texto escatológico produzido a partir do Bonsai Story Generator. Texto, aliás, que inspirou a trama de Dois Gringos na Lapa
Filipe C. Pinto foi o ponto culminante das minhas trollagens orkutianas. Percebendo que havia certa resistência à minha obra motivada pelas polêmicas em que eu me envolvia, criei este perfil falso e o utilizei para postar em uma comunidade literária um conto genial do H. G. Wells que, como eu esperava, foi desancado ou ignorado pelos foristas, como faziam com os meus.
Mas o tempo passou e eu deixei Filipe de lado, primeiro porque desencanei da ideia de que devo agradar aos outros e passei a me dedicar à cada vez mais dura empreitada de agradar a mim mesmo. Hoje quando posto um texto, onde quer que seja, sei que terei poucas curtidas e poucos elogios. Já me conformei que o mercado literário não está aberto para gente como eu, que vive e pensa no interior do Brasil. O público é, em sua grande parte, urbano e mais jovem do que eu, uma geração diferente, que não só teve experiências diferentes das minhas mas também me despreza, não só por eu ser a geração anterior, mas também pela minha ideologia e pelos meus valores.
Mas a piada era boa demais para ser esquecida. Filipe C. Pinto era uma brincadeira com o nome do autor americano Phillip K. Dick, que continua sendo um de meus maiores ídolos. Sem falar que ter um pseudônimo, um “alter ego”, um heterônimo, é sempre útil. No meu caso se tornou útil para separar as minhas traduções de minhas publicações originais. Por isso decidi ressuscitá-lo e a partir de hoje assinar como “Filipe C. Pinto” as minhas traduções e também alguns outros textos. Também pretendo voltar usar perfis falsos para as tretas de facebook, para que a minha sinceridade ofensiva não respingue na minha reputação de autor (se é que tenho uma).
Vamos ver se esta dicotomia me ajudará a atingir uma separação melhor entre tipos de conteúdo e me afastará de danos gratuitos à minha imagem. Aqui no blog, porém, continuo sendo eu e eu, junto a mim mesmo.