Baseado em um debate sobre o artigo de Ademir Luiz para a Revista Bula.
“Não é nenhuma prova de sanidade estar perfeitamente ajustado a um mundo doente.” — Krishnamurti.
Bem, li o texto. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Ele não é tão ofensivo quanto disseram (quem se ofendeu é porque tem a pele fina ou então quis vestir a carapuça) e nem tão brilhante. Diz uma obviedades que pouca gente tem coragem de dizer porque quase todos se escravizaram à opinião da maioria e têm medo de serem ostracizados. Se o público for tomar banho de bosta, muito autor que posta aqui na comunidade vai se chafurdar também.
Em primeiro lugar, a INTOLERÂNCIA. Os jovens de hoje são cheios de verdades e de intolerância, muito mais do que os de minha época (não, eu não acredito que a natureza dos jovens mudou, eles só ficaram mais corajosos nas suas certezas). Pouca gente realmente quer saber de opiniões diferentes. Pouca gente quer ler livros diferentes do que lê normalmente. Quase ninguém quer pensar fora da caixa. Um chamado à reflexão não atrai muita gente.
Digo intolerância porque é a coisa mais fácil do mundo você ser atacado por pensar diferente. Critique o autor da moda e as pessoas faltam pouco te esfaquear (fazer vudu eu tenho certeza que fazem, porque ando com uma dorzinha estranha nas costas…). Raramente alguém pergunta: “mas por que você pena assim?” Geralmente já têm a resposta: “você está com inveja…”
A afirmação de que uma obra nociva por criar a ilusão de que estar lendo já nos torna inteligentes deveria ser uma obviedade. Bastos Tigre já compusera este versinho em 1924:
“Não é por andar com livros”Que a gente vira doutor. “As traças vivem com eles,”Devem sabê-los de cor.”
Ocorre que o hábito da leitura é tão raro no Brasil que o simples ato de ler um objeto em formato de livro já é visto como uma distinção. Não é necessário que o objeto tenha conteúdo de livro, basta o formato. “Livro” é uma palavra que virou fetiche: os jovens não sabem se estão lendo uma novela, um romance, uma noveleta, uma coletânea de ficção ou um romance épico. Pensam em termos do objeto, o “livro”, não a obra (o que o livro contém).
Discutir o conteúdo deste “livro” vira tabu por causa da crença generalizada no poder civilizador do livro (olha o fetiche aí, gente). Melhor estar lendo do que […] (insira aqui alguma coisa negativa). Não importa se está lendo o Mein Kampf ou o “Methods File” (alt.suicide.holiday para os que quiserem procurar no google).
A ideia de que a leitura civiliza está intimamente ligada ao relativismo: o conceito de que não existem critérios objetivos para determinar a qualidade de uma obra literária. A ideia de que tudo é arte é a semente da decadência cultural. Se tudo é arte, então nada deixa de ser arte, então a arte se torna uma ostentação, uma impostura, que só se diferencia do quotidiano por ser chamada de arte por quem detem o poder.
Lembremos que os quadros abstratos pintados por um macaco já enganaram críticos de arte.
Mas acima de tudo, é um perigo “sentir-se inteligente”. O homem inteligente não se sente inteligente, se sente, isso sim, desafiado a compreender um mundo. Aristóteles disse que quanto menos inteligente é o indivíduo, mais simples lhe parece o mundo.
“Sentir-se inteligente” é, portanto, coisa de gente puoco inteligente. Gente que já está perto de atingir a tampa de sua capacidade de adquirir e manipular conhecimentos. Gente que é balde, e não poço sem fundo.
Outro problema é a questão do prolongamento da adolescência, que reflete, de fato, uma infantilização intelectual dos adultos de hoje. “A Geração Z cresceu lendo sobre dragões, castelos e magia. E não quer parar.” Esse é um problema.
Não há nada de errado em ler sobre isso, mesmo na idade adulta, mas o grande predomínio de tal literatura entre os best-sellers é sintoma de que nossos adultos ainda estão muito obcecados por coisas de adolescente. “muitos jovens inteligentes não estão dando os passos seguintes.”