Quebrando ou não o decoro do Parlamento, o cuspe do Jean lavou nossa alma pois reconstruiu o decoro de toda uma classe. Ele “mitou”, como se diz. Acredito que seus eleitores estarão a pensar: valeu a pena votar nesse veado cabra-macho só para ver ele cuspir naquele monte de bosta. Não é todo eleitor que pode se orgulhar de não ter desperdiçado um voto.
Essa cusparada trouxe mais respeito à comunidade homossexual do Brasil do que quarenta mil textões de internet.
Jean Wyllys entrou para a História. Vão estudar o seu discurso e seu ato daqui a cem anos, tal como estudam o discurso de Márcio Moreira Alves na véspera do AI-5 ou o de Ruy Barbosa falando sobre a vergonha de ser honesto.
Alguém conte para o Jean, por favor, que ele é um campeão de cuspe a longa distância: mirou dois metros à sua frente e acertou através do séculos. Ele foi dormir com a cabeça quente, mas já acordou póstumo.
Um dia vocês mostrarãao a foto desse cara para seus filhos e netos e dirão: esse foi o sujeito que não conseguiu mais segurar o seu profundo desprezo pelo homem que, na sessão em que se cassava injustamente o mandato de uma ex presa política, elogiou o torturador que a seviciara um dia nos porões da ditadura, demonstrando um nível de psicopatia extremo. E não podendo cometer um crime (certamente por falta de arma, não de vontade), cometeu um ato emblemático, arquetípico, libertador.
O cuspe de Jean Wyllys traduz a revolta justa de todos os que são pisados, xingados e humilhados por essa direita hidrofóbica que odeia o povo, odeia o Brasil.
Jean Wyllys agora é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo.
E tá proibido falar na minha frente que homossexual é fresco. Não generalizem, leitores. Afinal, foi de um homossexual a atitude mais viril naquele dia em que estuprou o Brasil.
Jean não abaixou a cabeça.
Será cobrado por isso, claro, mas o que é uma perseguição temporária diante do manto da história?