Com tantos casos de espiões soviéticos infiltrados nos EUA, a CIA resolveu contra-atacar e infiltrar um agente na União Soviética. Após uma série de estudos preliminares, concluíram que o agente precisaria falar russo fluentemente e sem sotaque, ter alta tolerância ao álcool para beber vodca sem entrar em coma, ter alta tolerância ao frio para nadar em lago congelado e ainda ser bem versado no folclore e na história da Rússia, além de tocar balalaica.
Evidentemente, estas são condições muito difíceis. O programa de recrutamento começou com crianças de seis anos de idade, que receberam aulas de russo diariamente e ouviam música folclórica, ópera e transmissões da Rádio Moscou. Aqueles que demonstraram maior talento para línguas foram treinados no frio até ficarem acostumados com temperaturas siberianas. Por fim, aqueles que ainda estavam no programa foram apresentados à vodca.
Quatorze anos depois somente um dos candidatos foi aprovado. Era um americano, perfeitamente fiel ao governo dos Estados Unidos, que falava russo tão bem quanto um nativo, conhecia toda a cultura russa de cabo a rabo, bebia vodca como um marinheiro corno e jamais tomara banho em um chuveiro elétrico, nem no inverno de Chicago.
O rapaz foi enviado a Moscou com documentos falsos, com a missão de fazer amigos e obter informações. Depois de alguns dias andando pela cidade, e sendo sempre tratado como turista, o jovem resolveu tentar se misturar, para ser aceito como russo. Foi ao Parque Gorki e havia uns malucos cavando buracos no gelo dos lagos para nadar. Pediu para nadar com eles.
“Tem certeza, estrangeiro?”
“Vou lhes mostrar se sou estrangeiro.”
Mergulhou na água à vontade como um pato. Os russos ficaram de queixo caído.
“Sua resistência é realmente impressionante, mas você não é russo.”
O americano se secou e se vestiu e pediu uma vodca para esquentar. Deram-lhe uma dose. Ele riu e disse que queria uma caneca. Encheu a caneca até a borda. Bebeu em dois goles.
“Caramba! Isso é incrível,” disse um dos jovens, “mas você não é russo”.
Puxou conversa com eles sobre folclore e história e sacou da bolsa uma balalaica, na qual tocou, com grande habilidade, duas ou três canções.
“Você é muito culto e toca bem, mas não é russo.”
“Raios!” Exasperou-se o americano, vendo falhar uma vida de preparação. “Como vocês podem dizer que não sou russo? Falo sem sotaque, conheço toda a cultura do país, toco balalaica, gosto do frio, bebo vodca…”
“Mas não há russos negros.”