Se em sua equipe de trabalho há uma pessoa negativa, que sempre tem ideias pessimistas, que nunca parece estar alegre, acredito que eu tenho um bom conselho a lhe dar, porque eu costumo ser uma dessas pessoas.
NÃO TENTE SER SUPER POSITIVO PARA COMPENSAR. Antes de qualquer atitude, questione o modo como age e as coisas que diz. Somente depois de ter certeza de que não é você que está causando a reação negativa do seu colega de trabalho é que pode pensar como agir.
Muitas pessoas dizem coisas “super negativas” apenas para irritar colegas que são positivos demais. Pessoas que se acham lindas, ótimas e perfeitas com seu jeito “positivo” de ser não são necessariamente assim. Enquanto você acha que está espalhando “pensamento positivo”, outras pessoas podem ver a sua atitude como egoísta, insensível, preconceituosa e autorreferente. Talvez você fique surpreso por saber disso, mas ser tão “positivo” costuma equivaler a “ser uma pessoa detestável”.
Às vezes um colega de trabalho chega triste e diz que perdeu uma promoção porque o chefe indicou um protegido.
Pessoas normais serão solidárias com a perda do colega e não julgarão nem a ele e nem ao chefe.
Pessoas negativas poderão dizer “é foda, mesmo, camarada, mas a vida é assim injusta, não adianta você se matar de trabalhar, se não tiver amizades nos lugares certos.”
Uma pessoa “positiva” poderá dizer “não diga isso, só depende de você, continue se esforçando que você terá o que merece, na hora certa.”
Adivinha qual das três respostas será recebida como um insulto?
A primeira resposta será recebida como uma solidariedade neutra. O colega frustrado poderá perfeitamente entender que o outro não quer se meter, porque receia pelo próprio rabo. Pode acontecer de, momentaneamente, ele achar que o outro está “em cima do muro”, mas, especialmente se não tiverem uma relação pessoal de amizade, isso não será objeto de julgamento.
A segunda resposta será recebida como solidariedade irrestrita. Será como ouvir: “eu sou como você, eu sofro como você, eu te entendo, cara”.
A terceira será recebida como “você não conseguiu porque não mereceu, foi culpa sua não ter se esforçado o suficiente, continue se matando como uma besta de carga até alguém reconhecer seu valor.”
Esse discurso “positivo” de autoajuda pode até ser agradável a algumas pessoas, mas tende a ser muito irritante para a maioria. Eu, particularmente, não mantenho relações de amizade com pessoas que agem dessa forma. Procuro me afastar porque esse discurso positivo me soa insincero e artificial. Gente que é positiva desse jeito não é capaz de manifestar solidariedade verdadeira. É o tipo de gente que é capaz de “rezar” por você, mas não lhe estende a mão se você cair sentado na rua em um dia de chuva.
Pode ser que o colega esteja reagindo negativamente porque se sente sufocado por um ambiente no qual todos o culpam pelos seus problemas. Todos sabemos que nem todos os nossos problemas são por nossa culpa. Injustiças existem. Acidentes acontecem. Culpar as pessoas por tudo que lhes acontece é sacanagem. Às vezes azar é só azar mesmo, acontece.
Para ser solidário com uma pessoa você não precisa ser positivo. Às vezes, basta estar ao lado dela e lhe emprestar um lenço para ela chorar. Não precisa dizer nada. Ser amigo de quem está na merda é muito mais positivo do que cem mensagens positivas. Todo, absolutamente todo o dinheiro gasto com palestras motivacionais é desperdiçado.
Em vez de julgar o colega como “negativo” ou ter medo de “contaminar” sua aura púrpura com as energias negativas dele, seja apenas simpático, cordial, justo e solidário com ele. Não o julgue, não tente lhe ensinar nada, especialmente se ele for da mesma idade que você ou mais velho. Acima de tudo, não o trate como um foco de pestilência espiritual.
O ambiente de trabalho já é muito estressante diante de tantas cobranças, nós não precisamos piorá-lo ainda mais com fofocas, julgamentos e pregações. Se não pode ajudar as pessoas a resolver seus problemas, não as faça sentir-se culpadas por aqueles que não são de sua responsabilidade.
Tem gente que é feliz com sua amargura. Às vezes o humor negro é uma estratégia válida de sobrevivência diante de um mundo cruel.